29.8.07

Infância roubada

Seu rosto e suas roupas ainda eram os mesmos de menina. Expressões inocentes e atrapalhadas denunciavam a puberdade ainda existente. As roupas eram um tanto quanto ingênuas, não tinham a malícia nem a preocupação de exibir o que os homens ansiavam em ver. Vez por outra um ombro saía à mostra. Vez por outra uma coxa saliente insistia em aparecer. Era o máximo que sua sensualidade pueril deixava transparecer para o deleite do sexo masculino. Nada intencional. Apenas descuido de uma menina serelepe. Mas seu corpo voluptuoso denunciava uma transição. Uma maturidade que insistia em aflorar. Principalmente nas roupas arrochadas e nas curvas que saltavam aos olhos masculinos. Ainda era menina de uma época que já se foi e que não volta mais. Daquelas meninas sapecas e levadas que não existem mais no mundo moderno de hoje e que deixaram saudades. De certo já não brincava mais de boneca mas também não queria saber de usar sandália rasteira. Ainda era tudo muito confuso e indefinido em seu corpo e mente. Uma simbiose inquietante. Uma eterna transformação. A única certeza que tinha era que causava frisson nos homens. Mesmo que inconsciente. Ela era assim. Nascera assim. E era exatamente isso que encantava e perturbava os homens que passavam em sua vida. Gestos de menina num corpo de mulher.

Beijos e inté!
Érika


27.8.07

Sentidos

Sentiu uma mão firme deslizar por entre suas pernas. Não se mexeu. Sorriso no canto da boca. Olhar cabisbaixo que lhe traía as emoções. Um calor arrebatador tomou conta de seu corpo. Já não conseguia mais disfarçar seu olhar que denunciava prazer intenso.
Olhos nos olhos.
Olhos na boca.
Olhos pelos quatro cantos do corpo.
Detalhes surpreendentes.
Seus poros transboradavam de tesão. Estava incomodada. Um incômodo bom. Desejava estar em outro lugar. Bem longe dali, se possível. Mas não podia. O que fazer com os desejos ardentes que lhe queimavam a pele? O que fazer com o que estava sentindo? Ignorar? Fingir como se não fosse com ela? Não era mais possível. Já estava envolvida como nunca antes. E se ali fosse sua última chance de se sentir desejada, de se sentir mulher de verdade? Não queria dar as costas pra uma história que começava a ser esboçada. Com traços fortes e marcantes, é verdade. Tinha certeza que seria uma história diferente das anteriores. Mais mentiras sinceras que verdades absolutas.

Beijos e inté!
Érika

The last time but not the least

It was the last time they kissed each other,
It was the last time they talked for such a long time,
It was the last time they laughed together,
It was the last time they stared at each other like no longer,
It was the last time they touched themselves,
It was the last time they felt their breathing,
It was the last time they stayed together,
It was the last time they became lovers,
It was the last time they made love,
It was the last time they walked together,
It was the last time they saw each other,
It was the last time they said I Love you to each other.
It was the last time they said good bye to each other.
Beijos e inté!
Érika

17.8.07

Untitled

Recebi o texto abaixo - sem título e de autor desconhecido - de um querido amigo meu, o Luis Ricardo, e só tenho a agradecê-lo. Principalmente pelo fato dele ter sido o responsável por me fornecer a matéria-prima para escrever esse post que vocês estão lendo agora. Ele também me fez refletir e ratificar sobre a importância que nós mulheres temos na vida dos homens, tendo em vista, que viramos vez ou outra, fonte de inspiração de textos como os que vão logo abaixo. Não sei se o Luis teve a intenção de me provocar, como geralmente faz, com essa tal história da mulher que está beirando os 30 e não consegue, sequer, pensar na idéia de chegar próximo da idade fatídica, ou então, que não consegue pensar na idéia de completar os tão temidos 30 anos. Diga-se de passagem não tenho o menor problema com o número 30. Pelo contrário, acredito que ele e tudo que possa vir a representar na vida de uma mulher, só tenha agregado valores na minha. Sei que ainda falta um ano pra comemorar a data mas sinceramente nunca me senti tão MULHER em toda a minha vida, como nos últimos tempos. Sinto-me bem representada por todas as mulheres citadas em cada frase abaixo. Cada vez mais me certifico que nós mulheres somos iguais aos vinhos. A medida que envelhecemos ficamos melhores. É difícil de largar. E digo isso, no sentido mais amplo que essa palavra possa ter.
Luis, mais uma vez obrigada por ter me enviado o texto. E obrigada também ao autor desconhecido porque sem ele esse post não poderia ter sido escrito. Agradeço a homenagem em nome de todas as mulheres que possam vir a ler esse post.

"Elas não se importam com o que você pensa, mas se dispõem de coração se você tiver a intenção de conversar.
Se ela não quer assistir ao jogo de futebol na TV, não fica à sua volta resmungando, vai fazer alguma coisa que queira fazer...
E geralmente é alguma coisa bem mais interessante.
Ela se conhece o suficiente para saber quem é, o que quer e quem quer.
Elas não ficam com quem não confiam.
Mulheres se tornam psicanalistas quando envelhecem.
Você nunca precisa confessar seus pecados... elas sempre sabem...
Ficam lindas quando usam batom vermelho.
O mesmo não acontece com mulheres mais jovens...
Mulheres mais velhas são diretas e honestas.
Elas te dirão na cara se você for um idiota, caso esteja agindo como um!
Você nunca precisa se preocupar onde se encaixa na vida dela.
Basta agir como homem e o resto deixe que ela faça...
Sim, nós admiramos as mulheres com mais de 30 anos!
Infelizmente isto não é recíproco, pois para cada mulher com mais de 30 anos, estonteante, bonita, bem apanhada e sexy, existe um careca, pançudo em bermudões amarelos bancando o bobo para uma garota de 19 anos..."

Beijos e inté!
Érika


16.8.07

No compasso do relógio....

Olhava para o seu rosto e sentia que queria dizer mais do que as simples palavras que acostumara a falar. Mas lhe faltava coragem. E sobrava medo. Medo, talvez, de não saber lidar com o inusitado, com o inesperadamente verdadeiro, com o real. Com o palpável. Um hiato se fazia presente na curta distância que os separavam. Mentiras sinceras eram trocadas a todo instante. Nem sempre eram sentidas de alma, é verdade. Nem sempre eram faladas de coração. Muitas vezes ditas da boca pra fora. Gestos e olhares traíam o que sua boca dizia ora ou outra. Nada que o tempo não pudesse curar. Mas certamente ainda levaria um tempo. Não se sabia quanto. Possivelmente o tempo natural dos acontecimentos. O relógio movia os ponteiros à sua moda. À moda antiga. Num tic e tac d-e-s-c-o-m-p-r-o-m-i-s-s-a-d-o com o tempo e com as cobranças da vida.
Do outro lado, o tempo se mostrava nervoso. O barulho dos ponteiros eram irritantemente ouvidos por ela. Mas nada podia fazer. Somente esperar, esperar e esperar o tempo voltar a dar os seus compassos generosos na cadência do amor.

Beijos e inté!
Érika

12.8.07

Pulsante

"O pulso ainda pulsa. O pulso ainda pulsa." "... O pulso ainda pulsa (pulsa). O pulso ainda pulsa (pulsa)." "... E o corpo ainda é pouco. E o corpo ainda é pouco". " ... O pulso ainda pulsa. O corpo ainda é pouco. Ainda pulsa. Ainda é pouco (pulso...)" .*

O corpo berra. Berra desesperadamente à procura de respostas que insistem em querer vir à tona. Uma superfície que não chega. Sufoca. Desnorteia. Um grito de socorro é clamado. Ensurdecedor diga-se de passagem. A voz embarga. A respiração obstrui. Lágrimas tentam eclodir e denunciar o mais verdadeiro dos sentimentos. Eles existem e tentam aflorar. Não há dúvida. Mas algo os impede. Um novo cenário se anuncia. Nada amistoso, por sinal. Desafiador talvez. Não há protagonistas nessa história que tarda a ser escrita por coadjuvantes. Coadjuvantes da própria vida. Vida esta cheia de surpresas. Ora boas, ora desagradáveis. Mas surpresas. Surpresas que já foram o começo de tudo e que hoje dão um outro rumo pra uma história que pode ser transformada em livro. Fino ou grosso? Não importa. Apenas detalhes.
Peito apertado. Mãos e pensamentos nervosos. Palavras que se travam no desconhecido mas que sobem à superfície com dificuldade.

Beijos e inté,
Érika

* Trecho da música "O Pulso" - Titãs.

3.8.07

Olhares....

Passos apertados.
Corações acelerados.
Cadência perfeita!
A respiração ressoava tão alta que mal podia ser escutada por aqueles que tudo enxergavam. Pelos corredores olhares penetrantes lhe invadiam. Nudez anunciada mas não sentida. Sentia-se nua de alma. Corpo não.
Incômodo! Olhares despiam suas partes mais íntimas. Olhares desconhecidos e não desejados por ela. Seu corpo entrara em ebulição. Seu corpo falava.
Angústia! A ansiedade lhe invadira o peito. Esperança de encontrar o real. Olhares ansiosos a esperavam em algum lugar seguro dentro de si. Olhares que se cruzavam e não se encontravam nunca mas que ardiam de desejo. Perdem-se em meio a multidão. Tristeza! Se olham e não se vêem a espera de uma aproximação.

Beijos e inté!
Érika